sábado, 23 de janeiro de 2010

Saiba mais sobre a Hanseníase

A hanseníase, amplamente conhecida pela designação de “lepra”, parece ser uma das mais antigas doenças que acometem o homem. As referências escritas mais antigas datam de 600 a .C e procedem da Índia, que, juntamente com a África, podem ser consideradas o berço da lepra. A doença era também conhecida dos antigos gregos, entre os quais era chamada de elefantíase. Na verdade, o termo lepra foi usado por Hipócrates, mas suas descrições indicam doenças da pele com lesões escamosas (leper = escamas), entre as quais certamente podem estar a psoríase e os eczemas crônicos, sem haver, porém menção às manifestação neurológicas da hanseníase. Durante a Idade Média, a hanseníase manteve alta prevalência na Europa e no Oriente Médio e a regra era isolar o doente da população sadia. Era ainda obrigado a usar vestimentas características que o identificavam como doente e fazer soar uma sineta para avisar os sadios de sua aproximação. Durante o período de colonização, a América Latina tornou-se, gradativamente, uma nova área endêmica mundial; ao mesmo tempo que a hanseníase tendia ao desaparecimento na Europa. Coube ao norueguês, Gerhardt Henrik Armauer Hansen, demonstrar, em 1873, a existência do Mycobacterium leprae , ou bacilo de Hansen, cuja presença identificou a partir de material obtido de lesões cutâneas de indivíduos acometidos pela doença. Sabendo-se que a hanseníase já foi endêmica em países tão frios como a Noruega, e que é justamente nas áreas mais quentes do planeta que se situam as nações mais subdesenvolvidas, deve-se antes estabelecer um relação entre a ocorrência de casos da doença e a situação sócio-econômica das populações, do que atribuir sua predominância a fatores climáticos.


A hanseníase não se trata apenas de uma doença infecciosa transmissível capaz de provocar lesões de pele, mas de uma patologia capaz de provocar incapacidades e deformidades relacionadas ao acometimento dos nervos periféricos quando não diagnosticada precocemente e que, responsáveis pelos tabus que envolvem a doença. A maioria da população, ao ser contaminada, oferece resistência ao M. leprae e não chega a adoecer, embora essa situação possa ser alterada em função da relação agente infeccioso / meio ambiente / indivíduo, ocorrendo o adoecimento de parcelas crescentes de indivíduos resistentes em áreas endêmicas (isto é, áreas onde a doença é freqüente na população). Nos indivíduos que adoecem, a infeçção evolui de maneiras diversas, de acordo com a característica da resposta imunológica do hospedeiro (o indivíduo que hospeda o bacilo). Se a resposta imunológica é competente, produz-se uma forma localizada e não contagiosa da doença; se essa competência não é efetiva, desenvolve-se uma forma generalizada e transmissível. Entre esses dois extremos, encontram-se formas intermediárias, refletindo um largo espectro de variações de resistência.

Por ser uma doença primariamente do sistema nervoso periférico (aquele que dá a sensibilidade e força muscular aos olhos, braços, pernas) e secundariamente a pele e outros tecidos, os sinais e sintomas da hanseníase podem ser: manchas ou lesões elevadas esbranquiçadas ou avermelhadas com sensação de “piniqueira”, queimação, ardência, ou mesmo sensação de coceira e em seguida evoluindo com dormência (perda de sensibilidade). Outras vezes placas, caroços vermelhos dolorosos, febre, dor nas articulações (juntas), inchaço nas pernas, obstrução nasal, etc. Além disso, dor em trajeto dos nervos que passam pelos cotovelos, punhos, atrás dos joelhos e tornozelos, com perda da função motora (diminuição da força) de mãos, pés e olhos (pálpebras).

Por ser uma doença infecciosa, transmissível pela vias aéreas superiores, principalmente pelo nariz (porta de entrada e saída), o importante é tratar o doente que está transmitindo a doença para eliminar a fonte de infecção. Portanto, logo após a primeira dose do tratamento específico da hanseníase, chamado poliquimioterapia, 99% dos bacilos do nariz são inativados, não sendo capazes de infectar outra pessoa.Quanto à mulher grávida que está com hanseníase, o bacilo não é transmitido ao feto, pela placenta. O importante é que a mulher seja tratada mesmo durante a gravidez, para que ela não transmita a doença para o bebê ao nascer, através da respiração. A hanseníase não contra-indica a amamentação que, ao contrário, deve ser incentivada pelos benefícios ao recém-nascido.

O diagnóstico é clínico, feito através do exame dermato-neurológico, que consiste em um exame minucioso da pele e palpação dos nervos periféricos situados no braços e pernas. Como não é uma doença no sangue, pois o bacilo gosta de temperatura mais fria para se multiplicar, a pesquisa do bacilo de Hansen é feita através de esfregaços cutâneos, por meio de um pequeno corte na pele dos lóbulos das orelhas, cotovelos e lesão (regiões frias do corpo). Além disso, para se confirmar o diagnóstico, pode ser feita biópsia (retirada de um pequeno fragmento) da lesão de pele. As formas clínicas da hanseníase são: Indeterminada (inicial), Tuberculóide (forma de resistência), Dimorfa (grupo intermediário) e Virchowiana (transmissível, avançada). Se os sinais e sintomas estiverem em trajeto de nervos, uma eletroneuromiografia pode ajudar a esclarecer o diagnóstico de hanseníase neural pura.
 
Enviado pela Profº. Drº. Isabela Maria Bernardes Goulart

Coordenadora do Centro de Referências Nacional em Dermatologia Sanitária e Hanseníase

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