sábado, 30 de janeiro de 2010

Hanseníase ao longo da história

Dos tempos bíblicos ao período moderno, a hanseníase foi descrita como uma doença que causava horror por conta da aparência física do doente não tratado – lesões ulcerantes na pele e deformidades nas extremidades e associada a estigma, os mais diversos. Esta marca de desonra fisicamente presente nas feridas e nos membros desfigurados do "leproso" e incorporada à sua identificação lançou a doença no lado mais obscuro da sociedade. Ela significou, ainda, ao longo de anos, exclusão do convívio social devido à única forma de tratamento existente até meados do século 20, que era o isolamento nos leprosários.
Este só passou a ser questionado a partir de duas premissas básicas: o avanço dos medicamentos quimioterápicos e a descoberta, através da pesquisa quantitativa e de laboratório, de que o isolamento não diminuía o número de casos. Até a década de 40 do século passado, a doença era tratada com óleo de chaulmoogra, medicamento fitoterápico natural da Índia, que era administrado através de injeções ou por via oral. Este medicamento, aliado ao isolamento, eram as formas de se tratar a hanseníase.

Com os avanços da indústria químico-farmacêutica e o emprego da sulfona no final da década de 1940 nos infectados internados, aliado ao avanço nas pesquisas laboratoriais que priorizavam conhecer a "vida" do bacilo e as possibilidades ou não de sua sobrevivência fora do meio humano, o isolamento mostrou aos pesquisadores que não era a maneira ideal de tratamento. (Historiadores da arte acreditam que o quadro descreve o rei bíblico Uzziah, que foi atingido pela hanseníase após usurpar a autoridade de um templo sagrado )

Na década de 1970 a Organização Mundial da Saúde recomendou o emprego da poliquimioterapia no Brasil e, paralelamente a isto, começou um movimento com o intuito de minimizar o preconceito e o estigma contidos no termo "lepra". Assim, oficialmente no país foi abolido o uso da palavra lepra e seus derivados, passando a ser designada como "hanseníase".
Na década de 80, com o término de uma ditadura de 20 anos e a busca da democracia, assim como a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde recuperando os direitos dos cidadãos, foi também o momento em que se perguntou o que fazer com os pacientes que ficaram décadas internados e isolados. Os leprosários tiveram o seu papel redefinido e muitos foram transformados em hospitais gerais, como é o caso do Hospital de Curupaiti, no Rio de Janeiro, e outros em centros de pesquisa, como é o caso do Sanatório Aymorés, que se transformou no Instituto Lauro de Souza Lima, em Bauru. Como forma de assegurar os direitos dos pacientes e atentar para o seu papel de cidadão, garantindo a sua reinserção social foi criado o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), que é um dos mais bem-sucedidos movimentos sociais no Brasil, com representação no Conselho Nacional de Saúde.

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